quarta-feira, 6 de abril de 2011

Diabetes infantil e suas fases

A criança aceita as limitações do diagnóstico por ser ainda o centro das atenções e, muitas vezes, superprotegida pelos pais. Só com o tempo a criança percebe que limitações, como comer doce, cuidados com os pés, aplicação da insulina diariamente, são irreversíveis. Para a criança é difícil associar a picada da agulha à obtenção de bem-estar físico. Assim, o diabetes é sentido como punição, ou seja, a injeção adquire conotação de "castigo" por algo feito. Os pais, por outro lado, no momento do diagnóstico, acabam sentindo-se culpados, por acreditarem haver transmitido o diabetes para o filho, e neste caso, tendem a relacionar o diabetes com transmissão genética, como se tivessem "gerado errado o filho".

Na evolução da doença, é importante ressaltar que tanto os pais quanto a criança passam por algumas fases bem características:

Negação: agem como se não existisse o diagnóstico, ou seja, continuam com os mesmos hábitos alimentares, não fazem uso da insulina, alegando uma série de justificativas, atuam como se estivessem com total saúde.

Revolta: surge quando os sintomas da primeira fase se intensificam. Tendem a apresentar atitudes de rebeldia e um constante questionamento de "por que comigo?", fazem comparações com outras pessoas e um mau controle metabólico.

Barganha: nesta fase se faz pressente a busca de "processos mágicos" para garantir a cura, tais como "chás contra diabetes", pílulas miraculosas", "garrafadas" e simpatias, ou fazem o controle da doença de forma compulsiva. visando recompensa.

Aceitação: é uma transformação gradativa no comportamento, que gera conscientização e adaptação em relação à doença, levando a uma responsabilidade pelo seu estado geral.

 

Em todas estas fases, cabe ao profissional conscientizar o paciente e/ou a família a respeito desses fatores, no sentido de encaminhar o tratamento para um controle saudável.

Estas fases são dinâmicas, podendo ser alternadas, até a elaboração.

Observa-se, também, que a forma como os pais lidam com o diagnóstico acaba sendo determinante na aceitação da doença. Pais que se sentem muito ansiosos frente à doença acabam vivenciando inseguranças e angústia, e em função disto, tendem a agir com seus filhos de forma permissiva: às vezes o doce é permitido, como uma forma de compensar a ansiedade dos pais; ou, se o filho não quiser tomar insulina, por insegurança, os pais acabam aceitando as transgressões do tratamento. Com o passar do tempo, a criança vai percebendo que pode fazer "uso" do diabetes para a obtenção de coisas. Por exemplo, passar mal torna-se um meio de ter determinado carinho ou coisa material, e com isso, manipula os pais e as demais pessoas com a doença. Isto é o que se chama "ganho secundário da doença". Por outro lado, se os pais tomam atitudes superprotetoras, acabam por impedir o filho de exercer atividades normais, o que gera muita insegurança.

 

Diabetes na adolescência

Na adolescência existem transformações físicas e emocionais características; é um período de revisão e questionamento dos valores, momento de instauração da identidade. Com o diabetes, esses conflitos se intensificam e a doença, aqui, é vista como repressora: para o adolescente, qualquer atitude contrária a esses novos valores, que ainda são confusos para o próprio jovem, é visto como autoritarismo, algo que o reprime e impede. Neste contexto, o diabetes é sentido como algo que muda sua vida e o discrimina das outras pessoas.

É comum o adolescente com diabetes desafiar a doença: em vez de tomar duas doses de insulina prescritas, toma apenas uma "para ver o que acontece". Se não estiver conscientizado, o adolescente poderá também usar o diabetes para agredir as pessoas, especialmente os pais, imputando a eles a responsabilidade do tratamento, mesmo que haja algumas complicações agudas, tais como hiperglicemia (aumento de açúcar no sangue) ou hipoglicemia (diminuição de açúcar no sangue). Isso não garante um controle adequado, pois é próprio do adolescente sentir que "pode tudo" (atitude onipotente): arrisca, na medida em que se sente "tolhido" pela doença.

Também apresentam-se como vítimas do meio e a enfermidade pode justificar sua incapacidade, indecisão e falta de êxito. Dunbar observou que os pacientes diabéticos jovens imputam ao médico sua falta de cooperação, baseada em uma "docilidade", ou culpam o médico ou as circunstâncias da vida pelo fracasso do controle metabólico.

 
                                   A vivência de uma doença crônica como o diabetes, pelo paciente e pela família, 

                             vai depender de vários fatores, como sexo, idade, vivência pessoal, que resultarão 
em uma dinâmica de reações frente às diversidade.


                                              Sabe-se que não é o diabetes que determina o tipo de personalidade, 

                              mas sim como cada pessoa com determinado tipo de personalidade lida com a doença.
              Por exemplo, pessoas com personalidade mais depressiva tendem a encarar a doença de forma autocomiserativa; pessoas com características mais saudáveis tendem a um autocontrole maior.





A  família
Muitas vezes o diabetes atua como exacerbador de todas as deficiências e conflitos familiares, sendo o portador depositário dessas dificuldades e frustrações. O diabetes atuaria como um agente de alteração na homeostase familiar. Famílias com padrões e estruturas muito rígidas tendem a lidar com a doença e com o paciente da mesma forma, ou seja, não permitem determinadas condutas ou ações do filho diabético, alegando riscos.

Muitas vezes, na fase da revolta do paciente, as família não conseguem lidar com isso e assumem a agressividade como sendo dirigida a eles (família), quando na verdade não o é. Isto torna o controle da doença muito prejudicado. Além disso, pais com pouca informação e com distorções sobre a doença tendem a produzir ansiedade, que passam para o paciente.

A rejeição dos pais em relação à doença pode acabar fazendo com que o doente a use para obter a atenção destes. Pais com uma dinâmica de medo e culpa tendem a restringir o paciente, prejudicando o desenvolvimento da sua personalidade. Observa-se também que atitudes superprotetoras levam o paciente a depender excessivamente da família. A preocupação constante dos pais refere-se a aplicação de insulina, ao futuro em relação à saúde, ao que pode ou não fazer, à dieta, às atividades físicas. Minuchim ao falar das famílias psicossomáticas relata: famílias com ausência de resolução de conflitos mostram distância entre os membros, mas, ao mesmo tempo, estabelecem um vínculo simbiótico, ficando o paciente como um depositário das neuroses familiares. Relata ainda que o sistema familiar tem propriedades de autoperpetuação. Isto significa que os vínculos que são modificados pela psicoterapia são mantidos um vez produzida uma mudança na família. É importante um trabalho educativo e psicoterápico também com a família, de forma que o vínculo paciente/doença/família seja resolvido de forma adaptativa e consciente. Na evolução da doença, é importante ressaltar que tanto os pais como a criança passam por algumas fases bem características. Em todas elas, cabe ao profissional conscientizar o paciente e/ou a família, no sentido de encaminhar o tratamento para um controle saudável.

http://www.portaldiabetes.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=2439

Um comentário:

  1. Estamos passando por momentos difíceis... a Giovana não quer as aplicações de insulina e de uma hora pra outra começou a querer doces, coisa que ela não fazia.. essa semana ela chegou a esconder a insulina e fiquei horas procurando..as vezes me sinto impotente diante de tantos acontecimentos..espero que esta fase passe logo..e , que Deus me ajude a encontrar uma saída...

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...