Informação sobre diabetes proporciona mais segurança nas escolas
Mães de primeira viagem em diabetes passam por momentos difíceis por não saberem lidar com seus filhos na escola. Afinal, não é nada fácil, principalmente quando os filhos são pequenos. No instante em que o diagnóstico da doença aparece, a insegurança invade os corações apertados da família inteira. A angústia aparece principalmente no período que estão na escola.
Viviane Bernardo Polimeno, administradora, mãe de Vinicius, que tem quatro anos, dois anos e sete meses com diabetes tipo 1, conta como foi o choque do diagnóstico, “ficamos sem chão e desorientados, mas depois de um tempo fomos nos acostumando com a nova realidade”.
Passado o primeiro impacto, a criança precisa retomar a vida normal e assim ir à escola. Mas como a família deve proceder? Como pode vencer a insegurança se o filho passar mal?
Para Viviane, não foi nada fácil. “Meu filho estuda em uma escola pública onde a professora e outros funcionários não realizam a medição da glicemia. Se ele passar mal, sou chamada para socorrê-lo. A maior insegurança é que tenha hipoglicemia, pois os colaboradores da instituição não sabem lidar com a situação”.
A psicóloga Graça Camara, coordenadora do departamento de psicologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica quais são as primeiras atitudes na escola. “Informar a direção, coordenação pedagógica (dependendo da estrutura da escola) e os professores diretamente envolvidos com a criança sobre a condição de seu filho e eventuais situações de hipo e hiperglicemia que podem ocorrer. É importante entregar material de orientação por escrito, se possível. Quando há algum profissional de enfermagem na escola, a situação fica mais tranquila”.
Com o passar do tempo, a vivência traz mais tranquilidade
Dulcinéia Maia Roza, formada em administração de empresa, mãe da Giovana com cinco anos, dois anos e meio com diabetes tipo 1, comenta como foi a sua experiência quando a filha entrou na escola. “Havia acabado de me divorciar e a Giovana apresentava descontrole da glicemia. Fui conversar com a diretora da escola, pois tinha medo de Giovana desmaiar, ficava nervosa, com medo de tudo atrapalhar o seu aprendizado. Vivia com o celular na mão e frequentemente a escola me ligava”, conta.
“No começo, ficava com a Giovana na sala de aula até que ela se acalmasse, pois chorava muito e a glicemia subia bastante. Na hora do intervalo, voltava para a escola para fazer o teste de glicemia e aplicar insulina. Contava também com o cuidado da professora que ficava atenta quanto aos sintomas da minha filha”.
“Este ano, Giovana já se adaptou bem à escola. Vou somente para medir a glicemia e aplicar a insulina antes do recreio. Mandei todas as orientações por escrito para a escola. Mantenho a minha filha bem informada sobre tudo, ela mesma hoje já identifica quando está com hipoglicemia e avisa a professora”, relata Dulcinéia.
Manter o corpo docente bem orientado é o caminho mais fácil para recuperar a segurança no momento do filho ir à escola. “Os pais devem inicialmente fazer uma reunião com os professores, colegas de turma da criança, merendeiras e outros colaboradores. Uma das soluções é contatar uma associação de diabetes da cidade. A Associação Diabetes Brasil (ADJ) realiza um trabalho de palestras nas escolas paulistanas. O mais importante é manter seu filho bem orientado e o mais independente possível. Em reuniões com os pais, é importante reforçar informações e, na mudança do ano letivo e de professor, ressaltar as informações e entregar o material escrito”, recomenda Graça.
Estas dicas foram seguidas por Dulcinéia, “tanto os diretores como professores me auxiliam, só não realizam o teste de glicemia e não aplicam insulina. Estão sempre atentos aos sintomas. Quando há algum evento como festa junina e passeios, informam com antecedência. Hoje já faço parte do conselho da escola, assim posso orientá-los melhor sobre a condição. Já estou até providenciando um informativo sobre diabetes para disponibilizar aos funcionários e professores quando voltarem de férias”.
No caso da Viviane, a escola não se envolveu muito com a condição de Vinicius. “Levei alguns folhetos e livrinhos sobre diabetes e conversei muito com os diretores e professores. Perguntei se gostariam de receber palestra, mas não tive retorno. Fico em cima da professora todos os dias para saber que atividade meu filho realizou, o que comeu e como reagiu”.
“Então, para amenizar a situação, hoje moro em frente à escola, procuro alimentá-lo bem para que não tenha queda de glicemia e, na mochila, tem sempre um kit com mel ou bala líquida”, comenta Viviane.
Graça ressalta a importância de ultrapassar o preconceito: “a arma ideal contra esse obstáculo é a informação. Os pais e as crianças não devem esconder a condição, pois os riscos são grandes e, cada vez mais, o diabetes passa a ser um ‘peso’ para a criança ou jovem ou para a própria família e impede que uma etapa seja atingida, a aceitação”.
Um alerta importante dado pela Dulcinéia é que “oriento bem a Giovana para que não seja motivo de brincadeira entre os colegas, peço para que fique atenta e somente procure ajuda se realmente estiver passando mal, pois já aconteceu da minha filha dizer que estava com algum sintoma e fui ampará-la. Quando cheguei, ela estava bem, mas sem vontade de fazer a atividade. Por isso, sempre recomendo aos professores que fiquem atentos, pois as crianças são espertas. Nesses casos, vou à escola, faço o teste de glicemia e se estiver na normalidade, dou um beijo e faço voltar à aula”.
Iniciativa Associação Diabetes Brasil (ADJ)
Em novembro de 2009, a Associação começou a executar o projeto Nutrição em Ação. O objetivo foi transmitir informações sobre alimentação saudável e a necessidade de atividades físicas, como fatores indispensáveis para diminuição do risco de obesidade e prevenção de doenças, visando à melhora da qualidade de vida dos alunos da rede pública de ensino.
Com o apoio da Fundação Mundial de Diabetes e do Ministério da Saúde, segundo a coordenadora da iniciativa, Maria Izabel Homem de Mello, “o projeto já atingiu 52 escolas nas zonas leste, oeste, sul, norte e centro e municípios como Barueri, Mogi das Cruzes, Itanhaém, Santos, Sapucaí Mirim, Ourinhos, Espírito Santo do Turvo e Santa Cruz do Rio Pardo”.
“No total, foram atingidos mais de 29 mil crianças e adolescentes do Ensino Fundamental e Ensino Médio e uma média de 20 funcionários por escola, contabilizando mais de 1 mil colaboradores sensibilizados”, complementa Maria Izabel.
Com uma trajetória de dois anos, o programa prevê atingir em torno de 60 escolas públicas e 36 mil estudantes diretamente, além de funcionários das escolas presentes nas ações e familiares dos estudantes.
De acordo com Maria Isabel, “os programas escolares de educação em saúde são, no momento, a estratégia mais eficaz para reduzir problemas de saúde pública crônica relacionados ao estilo de vida sedentário e padrão alimentar inadequado. Como o conteúdo programático curricular não abrange todas as informações necessárias para mudanças de hábitos saudáveis, são necessários programas contínuos de educação em saúde”.
Box:Projeto obriga escolas a ter profissional de saúde para cuidar de doentes crônicos
O deputado federal Jonas Donizette (PSB), presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, apresentou no dia 29 de março de 2011 o Projeto de Lei que obriga as escolas a manterem um profissional de saúde para atender alunos com doenças crônicas. A medida beneficia aqueles que precisam de cuidados cotidianos ou eventuais, como diabetes, epilepsia, asma, alergias, hemofilia, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, entre outros.
Na ocasião, o parlamentar apresentou outro projeto de lei, que complementa a primeira proposta e beneficia as escolas públicas, considerando as despesas com a remuneração de profissionais de saúde. “A medida não afeta de modo expressivo o orçamento obrigatório da educação e ainda vai permitir um investimento consistente em prol do aluno dentro da própria unidade escolar”, acrescentou o deputado federal do PSB.
Crianças na escola
Para Jonas Donizette, a exclusão de alunos por problemas de saúde crônicos caracteriza a violação de direitos constitucionais, mais nitidamente no campo dos direitos da criança e do adolescente, e da proteção e da assistência necessárias. Na justificativa do Projeto de Lei, o deputado deixa claro que sob nenhuma hipótese é admissível que escolas excluam crianças e adolescentes por força de uma conveniência econômica, financeira, religiosa, ideológica ou qualquer outra que seja. O deputado ainda acrescenta que, no caso das escolas particulares, ser proprietário de escola não é possuir um negócio como outro qualquer, pois educação e ensino não são mercadorias.
Segundo a proposta de lei, o não cumprimento da determinação implicará, na primeira autuação, uma multa de R$ 20 mil e R$ 40 mil na segunda. A partir da terceira, a multa passa a ser de R$ 60 mil por cada constatação.
Fonte:ttps://hwww.accu-chek.com.br/br/especiais/filhos-na-escola.html